Feira de Agricultura Familiar revela um setor eficiente e produtivo da economia

Produtos industrializados pela Coofasulba
JBO

 

Até o próximo domingo (16), a avenida Soares Lopes vai sediar a 5ª edição da Feira da Agricultura Familiar de Ilhéus e Festa do Milho. O evento reúne em um só lugar os principais produtos agrícolas do município, apresentações culturais, comidas e bebidas típicas e muito forró. Vinte e quatro estandes vão expor e comercializar desde artesanato local a produtos da economia solidária, numa promoção da Cooperativa de Desenvolvimento Sustentável da Agricultura Familiar do Sul da Bahia (Coofasulba), com apoio do Governo da Bahia e Sebrae. Também são parceiros da iniciativa a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Ceplac, Superintendência de Agricultura Familiar (Suaf) e Prefeitura de Ilhéus. A abertura do evento acontece hoje (12), às 19 horas, com a participação de agricultores e autoridades. Durante todos os dias o evento vai estar aberto à visitação pública a partir das 16 horas.

Um dos setores mais organizados da economia local, a agricultura familiar em Ilhéus conta, hoje, com mais de cinco mil agricultores, sendo que, deste total, 400 famílias estão diretamente ligadas à Coofasulba. As principais fontes de produção da zona rural do município são o cacau, bananas da prata e da terra e aipim que passaram a ser mais valorizados a partir da década de 90, quando os agricultores familiares resolveram se organizar, criando associações e implementando o Conselho Municipal Rural. “Hoje – destaca o presidente do conselho, Dero Farias – somos formados por 46 associações e respeitados pelo caminho que estamos construindo”.

A história é longa. Os projetos da pequena agricultura já foram, um dia, individualizados. “Cada um pensava no seu produto, um competia com o outro. Foi preciso apostar no cooperativismo para quebrar este tabu”, lembra Dero Farias. Com uma zona rural extensa e uma malha viária cheia de problemas, o agricultor sempre teve na logística o seu grande entrave para escoar a produção para a cidade. “O carro-chefe sempre foi o cacau. A gente percebeu que era preciso se organizar. Mas não competindo com os grandes compradores de cacau. Era preciso pensar diferente, algo inovador e criativo”, explica o atual presidente da Coofasulba, Erivaldo Alves, um pequeno agricultor da região de Olivença.

A criação do Conselho Municipal Rural foi decisivo nesta transformação. Mas pelo fato de não poder operar políticas de inserção no mercado, foi fundamental criar a cooperativa. Com a Coofasulba em funcionamento o passo seguinte foi estabelecer parcerias de Assistência Técnica Rural (ATER) para beneficiar os agricultores, trabalhar na infraestrutura das pequenas propriedades rurais, implementar o programa “Luz para Todos”, promover a regularização fundiária, estimular habitação rural e políticas de comercialização dos produtos.

Hoje a Coofasulba é um modelo muito bem sucedido no mercado cooperativista do interior baiano, atuando em várias vertentes da economia produtiva. No programa de Aquisição de Alimentos (PAA), atua em três importantes vertentes: no PAA Doação, no PAA Estoque e na Compra Direta. No “Doação”, a Conab adquire seus produtos e a própria cooperativa faz a distribuição de doações de alimentos para entidades filantrópicas da região, a exemplo de entidades como a Apae, Asilos e Creches. São 26 instituições beneficiadas. No PAA Estoque, o governo empresta recursos com juros de apenas três por cento ao ano, para estimular a produção e verticalização da agricultura. E na Compra Direta, é a própria Conab quem compra o estoque para compor cestas básicas distribuídas à população carente. O achocolatado da Coofasulba, por exemplo, é um dos itens da Cesta Básica que hoje atende às vítimas da seca na Bahia. Esse mesmo achocolatado, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), é vendido ao governo da Bahia para atender a merenda escolar na Região Metropolitana de Salvador e em 6 dos 26 municípios do Território Litoral Sul.

Para verticalizar a produção de achocolatados a cooperativa firmou parceria com a Ceplac, que cedeu um galpão para o funcionamento da unidade de beneficiamento. A cooperativa entrou com o maquinário e pessoal. São 15 trabalhadores contratados e uma produção de 30 toneladas por mês, que, nos próximos 90 dias, vai dobrar com a chegada de mais uma linha de produção, adquirida em parceria com o governo do estado. Para a produção de mistura instantânea nos sabores milho e chocolate, a cooperativa é parceira de uma unidade industrial de Ilhéus. E polpas de frutas são produzidas em três unidades simplificadas sob o comando dos pequenos produtores, associados à entidade.

E ainda é possível ampliar tudo isso. Representantes da Coofasulba atuam permanentemente em Rodada de Negócio fora do estado. A meta é, nos próximos anos, entrar forte nos mercados de Brasília, Recife e Aracaju. Pela Lei, no mínimo, 30 por cento dos produtos adquiridos pelos governos para a merenda escolar, devem ser originários da agricultura familiar. “Quem cumpre essa determinação a gente ainda conta nos dedos”, lamenta Dero Farias. Mas as perspectivas da Coofasulba são cada vez melhores. Unidos, centenas de pequenos agricultores apostam em um grande negócio.